Carta à Luiza Mahin
Luiza Mahin. Negra, nagô, mulher, guerreira, escrava, pagã,
revolucionária. Líder da Revolta dos Malês. Inspirados por sua força, viemos
aqui dizer que não nos resignaremos diante da dor, diante da exploração de
classe, gênero ou cor. Sobre um chão de sangue nos levantamos pra lutar, assim
como lutastes. Nosso inimigo? Aqueles que erguem suas garras com unhas fétidas
para ferir o nosso povo, o povo brasileiro. Não deixaremos. Guerreamos assim
como ti por um novo mundo, um verdadeiramente livre. Não esta escravidão
velada.
Luiza, não deixaremos que lhe devolvam os grilhões de outros
tempos e te acorrentem nos escombros dessa história. História falsa de homens
brancos. Alforriamos-te, pois. A história do povo brasileiro não deve ser pintada
de branco. Ela tem diversas cores e principalmente o vermelho. Vermelho de
luta, de dor, de resistência, de sangue. Não! Não fomos resignados, pacíficos,
amigáveis e só. Lutamos sim, e muito. Porém sempre abafados pelas garras, pela
espada e a fumaça. E assim, que nossas casas sejam como a tua, reduto de
confabulações, conspiração e vida. Vida de ação, vida de luta.
Luiza Mahin, negra, nagô, mulher, escrava, encarnas em ti
nossas dores. Dor profunda que sentimos ao ver uns sentirem fome e venderem
seus corpos das mais diversas formas para alimentar a barriga e os privilégios
de outros. Dor ao ver no rosto do nosso povo as lágrimas e as rugas da exploração.
Sua energia, guerreira africana, nos da força para sermos persistentes, para
ararmos o deserto de nossas consciências, podermos enfim plantar sementes
crioulas de esperança e regá-las com nosso suor e não mais, sangue. Assim nos
libertamos dos grilhões do Estado e vamos buscar no povo o sentido de nosso
verdejar caminho. E enfim nos erguemos e permanecemos de pé, assim como você,
Mahin.
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